O fígado aguenta décadas de agressões sem dar sintoma algum de esgotamento. Se por um lado essa robustez é uma vantagem, por outro mascara uma doença que cresce assustadoramente: a esteatose hepática não alcoólica, a popular gordura no fígado. Estima-se que ela já atinja 40% dos adultos que moram no Ocidente.

Claro que esse fenômeno não vem sozinho: ele é resultado (e anda ao lado) de desgovernos em outras redondezas do corpo. De acordo com o Ministério da Saúde, 54% dos brasileiros estão acima do peso e 18% são considerados obesos — estatística que sobe a cada ano que passa.

O caráter silencioso, inclusive, faz o acúmulo de gordura ser uma condição ainda mais perigosa: como não há queixas, o sujeito vive anos sem se preocupar com o que se passa dentro do abdômen. Nesse meio-tempo, o­ risco de sofrer um ataque cardiovascular, como infarto ou AVC, duplica. Para piorar, 15% desses indivíduos evoluem para um quadro mais sério, a esteato-hepatite. Nessas circunstâncias, o fígado é refém de inflamação e lesões e não consegue trabalhar direito. Se nada for feito, um câncer ou uma cirrose são a próxima etapa.

A boa notícia é que dá pra intervir. Basta fazer um ultrassom para ter o diagnóstico e, a partir daí, iniciar uma terapia simples e efetiva — sem a necessidade de tomar remédios. O pilar do tratamento é emagrecer por meio de mudanças na dieta e prática de exercícios.

 

Como surge a esteatose hepática não alcoólica

  1. Excesso de peso, sedentarismo e dieta desbalanceada fazem com que a quantidade de glicose no sangue suba demais.
  2. Com o passar do tempo, esse cenário leva à resistência à insulina. Isto é, esse hormônio não consegue mais colocar o açúcar para dentro das células.
  3. A sobrecarga de glicose vai parar no fígado. Em células chamadas hepatócitos, ela é transformada em triglicérides, um tipo de gordura.
  4. Como o organismo já tem energia de sobra, esses triglicérides ficam armazenados nessas células, que se tornam cada vez mais gorduchas. É a esteatose hepática
  5. Com o tempo, os hepatócitos gorduchos perdem eficiência e parte de seu funcionamento.
  6. A falta de células hepáticas em bom estado gera um estresse danado no fígado, que entra em estado de inflamação.
  7. Vários hepatócitos morrem. Em seu lugar, surge um tecido fibroso parecido com uma cicatriz.
  8. Esse processo pode terminar de dois jeitos ruins: ou aparece um câncer ou uma cirrose.

 

Como é feito o diagnóstico

Como o problema não dá sintomas, o jeito é apelar aos exames de rotina para flagrá-lo:

Sangue: As enzimas ALT e AST (também conhecidas como TGO e TGP) estão elevadas? Sinal de que algo não está bem no fígado.

Ultrassom: Permite avaliar o estado da glândula e ver se há muita gordura por ali.

Biópsia: Necessária para determinar a gravidade e a extensão do quadro.

 

Como diminuir a gordura no fígado

  1. Dieta e exercício fazem a pessoa perder peso. Isso derruba as taxas de glicose e alivia a resistência à insulina.
  2. Com isso, os triglicérides são liberados aos poucos pela glândula na forma de VLDL, que serve de energia para várias partes do organismo.
  3. O emagrecimento, contudo, precisa ser gradual. Assim, as reservas de gordura localizadas no abdômen são descartadas sob medida.
  4. Uma perda de peso veloz faz muita gordura do tecido adiposo ser despejada e se encaminhar em bloco para o fígado, o que desencadeia uma inflamação.